terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

O Plano do Mestre - Associação

"Eis que estou convosco todos os dias..." Mateus 28:20


Jesus ficava com os discípulos
Após chamar os seus discípulos, Jesus desenvolveu a prática de estar com eles – essa era a essência do Seu programa. Era uma forma extremamente simples de prática. Jesus não tinha uma erudição formal, nem seminários teológicos, nem aulas periódicas para matricular Seus discípulos. Por mais admirável que pareça, tudo o que Jesus fez, a fim de ensinar àqueles homens em Seu caminho, foi atraí-los para andarem perto de Si. Jesus era a Sua própria escola e o Seu próprio currículo!

O método de ensino natural e informal do Senhor era muito diferente do ensino rígido e formal dos escribas. Estes religiosos forçavam seus discípulos a seguirem certas leis, rituais e fórmulas de conhecimento, para serem distinguidos dos demais. Enquanto isto Jesus apenas pedia aos Seus discípulos que O seguissem. O conhecimento do Reino não era passado por meio de leis e dogmas, mas na maneira de viver e na personalidade viva de Alguém que andava com eles. Os discípulos de Jesus se distinguiam dos demais não por rituais e dogmas, mas por estarem na companhia de Jesus, participando, deste modo, de Sua doutrina (João 18:19,20; Atos 4:13).

A sabedoria era adquirida na companhia de Jesus

Foi por causa desse companheirismo com Cristo que seus discípulos puderam conhecer os mistérios do Reino de Deus (Lucas 8:10). O conhecimento era obtido por meio de associação, antes de ser entendido por explicação. Um exemplo disto foi quando um de seus discípulos perguntou: “como saber o caminho?”, demonstrando com isso sua frustração sobre entender a Trindade. Perante isto Jesus respondeu: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida...” (João 14:5,6). Seus discípulos precisavam apenas abrir os olhos para a verdade espiritual encarnado no meio deles.

Este método Jesus usou desde o início, quando convidava os homens para serem seus discípulos. Ele dizia: “Vinde e vede” (João 1:39), querendo mostrar que observando o modo de viver do Senhor, nada mais precisava ser dito. Para Filipe disse: “Segue-me” (João 1:43) e este transmitiu ao seu amigo Natanel: “Vem e vê” (João 1:46). Um sermão vivo vale mais que cem explicações. Mais adiante disse a Pedro, Tiago, João e André: “Vinde após mim e eu vos farei pescadores de homens” (Marcos 1:17; Mateus 4:19; Lucas 5:10).

O princípio observado

Perceba a tremenda estratégia do Senhor. Apesar de que muitas coisas os discípulos não conseguissem compreender, enquanto seguiam a Jesus poderiam ter suas dúvidas sanadas. Na presença de Jesus puderam aprender tudo quanto precisavam saber.

Esse princípio fica subentendido desde o início quando Jesus selecionou dozes homens, dentre aqueles que compunham o círculo maior de Seus seguidores, “...para estarem com Ele e para os enviar a pregar...” (Marcos 3:14; Lucas 6:13). Mais adiante Jesus disse que iria enviá-los “... a pregar, e a exercer a autoridade de expelir demônios”. Entretanto Jesus deixou claro que antes que pudessem “pregar” ou “expulsar demônios”, eles deveriam “estar com ele”. Esta nomeação pessoal para se manterem em associação constante com Cristo fazia parte de sua comissão de ordenação tanto quanto a autoridade de evangelizarem.

Mais íntimos quando o treinamento terminava

Jesus estava tão focado nesta missão que, enquanto passava o segundo e terceiro ano de ministério, mais Ele dedicava tempo e atenção aos discípulos.

Com frequência Jesus levava seus discípulos para um retiro, num lugar mais reservado a fim de evitar a publicidade tanto quanto possível. Foram feitas jornadas para Tiro e Sidom (Marcos 7:24; Mateus 15:21), para Decápolis (Marcos 7:31; Mateus 15:29), para as regiões da Dalmanuta (Marcos 8:10; Mateus 15:39) e também para as aldeias de Cesaréia (Marcos 8:27; Mateus 16:13). Essas jornadas foram feitas em parte por causa da oposição levantada pelos fariseus, e por causa da hostilidade de Herodes; mas, principalmente, porque Jesus sentia a necessidade de ficar a sós com os Seus discípulos. Mais tarde o Senhor passou com seus discípulos na Peréia (Lucas 13:22-19:28; João 10:40-11:54; Mateus 19:1-20:34; Marcos 10:1-52). E quando aumentava a oposição ali, Jesus retirou-se para uma cidade próxima do deserto chamada Efraim, onde permaneceu com seus discípulos (João 11:54).

Perante tudo isto não é de se admirar que, quanto mais se aproximava a semana da paixão, Jesus ficava mais próximo dos seus discípulos. Mesmo no Getsêmani, eles não se distanciavam mais do que um tiro de pedra (Lucas 22:41). Não é assim que acontece com todas as famílias quando é chegada a hora da separação? Cada minuto é aproveitado, por uma consciência de que esta associação íntima logo não mais continuará. As palavras proferidas sob estas circunstâncias são sempre as mais preciosas. Isso explica porque os que escreveram os evangelhos dedicaram mais atenção àqueles dias.

Outra questão interessante é que, após a ressurreição, Jesus apareceu cerca de dez vezes particularmente aos apóstolos escolhidos (Atos 10:41,42; 1 Coríntios 15:5-8). As Escrituras demonstram que nenhuma pessoa incrédula teve o direito de ver ao Senhor glorificado. Porque? Somente os discípulos que estavam desesperados pelos últimos acontecimentos precisavam ter sua fé revitalizada e confirmada mediante a prova da ressurreição. Todo o ministério de Jesus girou em torno dos discípulos.

Jesus passou mais tempo com os Seus discípulos do que com todos os demais habitantes daquele tempo. Comia com eles, dormia junto com eles, conversava com eles, velejaram e pescaram, oraram juntos e adoraram nas sinagogas e no templo.

Contudo, ministrava às massas

Enquanto Jesus ministrava aos outros, Jesus era sempre acompanhado pelos Seus discípulos. Quer Ele dirigisse a palavra às multidões, quer conversasse com os escribas e fariseus, os discípulos estavam sempre por perto, observando e ouvindo. Sem negligenciar o Seu ministério regular para com os que estavam em necessidade, Jesus mantinha um ministério constante com os discípulos, que permaneciam ao Seu lado. Dessa forma, aproveitavam o benefício de tudo quanto Ele dissesse e fizesse aos outros, além das explicações pessoais e dos conselhos que Ele lhes desse.

Isso exige tempo

Essa associação íntima e constante, naturalmente, significou que Jesus não tinha tempo para dedicar aos Seus familiares. Como criancinhas que precisavam de cuidados constantes, assim também os discípulos estavam aos pés do Mestre. Até mesmo naqueles momentos de devoções particulares, Jesus estava sujeito às interrupções devidas às necessidades dos discípulos (Marcos 6:46-48; Lucas 11:1). Entretanto era isto que Jesus queria, pois eram seus filhos espirituais (Mateus 12:47-50; João 13:13). A única maneira de um pai criar seus filhos é estando com eles.

O alicerce do “acompanhamento”

O acompanhamento é um cuidado que devemos ter com os novos convertidos. Trata-se de algo óbvio, porém, infelizmente, muito negligenciado. Isto talvez porque no nosso trabalho evangelístico este estágio não chame tanta atenção. Jesus, porém, sabia da importância disto e por isto investiu neles.

Jesus declara em João 15:27 que vinha treinando aqueles homens para serem suas testemunhas, depois que Ele partisse. E o método que Ele escolheu para isto foi simplesmente “estar com eles”. Pelo motivo de seus discípulos ficarem com o Mestre em todos os momentos, haveriam de receber autoridade no Seu Reino (Lucas 22:28-30).

Seria um erro pensar que este princípio de acompanhamento ficou restrito aos apóstolos. Jesus concentrou seus esforços sobre estes poucos homens selecionados, mas em menor intensidade, Ele manifestou a mesma preocupação pelos Seus demais seguidores (veja o exemplo de Zaqueu, quando Jesus foi na casa dele após a sua conversão – Lucas 19:7; bem como sua preocupação com os moradores de Sicar, quando se demorou ali alguns dias – João 4:39-42). Todos estes crentes receberam alguma atenção pessoal do Senhor, embora não se comparasse com a atenção dada aos apóstolos.

Também é importante mencionar o grupo de mulheres fiéis, que ministravam a Jesus com seus bens (Lucas 10:38-42; Lucas 8:1-3). Algumas destas mulheres estiveram com Jesus até o fim. Elas receberam também atenção do Senhor para com a fé, mas também não se comparou com a prestada aos apóstolos.

Jesus fazia tudo ao seu alcance, e realmente dava atenção aos novos convertidos, porém Ele devia dedicar-se principalmente à tarefa de desenvolver alguns homens, que, por sua vez, pudessem dedicar o mesmo tipo de atenção a outros.

A igreja como comunhão contínua

O problema inteiro da dedicação e atenção pessoal a cada crente individual somente pode ser resolvido mediante a compreensão completa da natureza e da missão da igreja. Realmente é a igreja que serve de instrumento para que Jesus pudesse “acompanhar” aqueles que O seguiam. O agrupamento de crentes é o Corpo de Cristo e, nessa qualidade, os membros devem ministrar uns aos outros, individual e coletivamente.

Cada membro da comunidade da fé tem um papel a desempenhar neste ministério. Mas isto somente é possível quando eles mesmos estiverem sido treinados e inspirados. Enquanto Jesus esteve com eles pessoalmente, Ele era o líder. Porém, com Sua partida, seria necessário que os membros treinados da Igreja assumissem a liderança.

Nosso problema

Quando a Igreja vai aprender esta lição? Devemos parar de dar foco demasiado nas multidões e preocupar-se em preparar líderes. Os cultos de oração e aulas de treinamentos para obreiros evangélicos jamais conseguiram também cumprir esta tarefa de preparo. Preparar uma pessoa na fé requer atenções pessoais constantes, tal como aquela que o pai dá aos seus filhos. Os filhos não podem ser criados por procuração. Esta tarefa somente poderá ser realizada por indivíduos que permaneçam ao lado daqueles a quem buscam liderar.

A Igreja tem falhado muito neste aspecto. Nas igrejas muito se fala sobre o evangelismo e a necessidade de disciplina cristã, mas pouco interesse se mostra pela associação pessoal, quando é evidente que esse trabalho de evangelismo envolve o sacrifício e o abrir mão da liberdade pessoal do líder cristão. Muitos dos recém-convertidos não recebem nenhum cuidado, a não ser o estudo de uma escola bíblica e o aprendizado nos cultos de adoração. Se os novos convertidos não tiverem pais ou amigos que preencham esta lacuna de maneira eficaz, serão deixados inteiramente ao abandono, para descobrirem sozinhos soluções para inumeráveis problemas práticos, correndo o risco de naufragar na fé.

Sabendo desta tão grande importância de acompanhar os novos na fé, não é de se admirar que cerca de metade daqueles que fazem profissão de fé e unem-se à igreja venham a se desviar ou percam o ardor do primeiro amor. Se os cultos e as aulas da escola bíblica são tudo o que as igrejas locais tem a oferecer para desenvolver os novos convertidos em discípulos maduros, então essas igrejas estão sendo derrotadas em sua própria finalidade, por contribuírem para uma falsa segurança; e, se os novos convertidos seguirem esse mesmo exemplo preguiçoso, isso, finalmente, lhes fará mais mal do que bem. Desta forma, não há outra opção para desenvolver líderes evangélicos poderosos se não houver dedicação intensa a estas almas. Afinal de contas, se Jesus, o Filho de Deus, descobriu ser necessário permanecer quase continuamente com apenas alguns de Seus discípulos, pelo período de três anos, e se apesar disso um deles se perdeu, como poderia uma igreja local esperar cumprir essa tarefa com um método que consiste em reunir-se apenas alguns poucos dias durante o ano inteiro?

O princípio aplicado hoje em dia

A igreja precisa entender que sua preocupação primordial deve ser a de ser uma guardiã pessoal daqueles que forem confiados aos seus cuidados. Agir de outra maneira equivale a abandonar os novos crentes ao diabo.

É necessário encontrar, dessa forma, um sistema pelo qual o novo convertido tenha um amigo crente a seguir, até o tempo em que, por sua vez, possa guiar outro na fé. O conselheiro deve permanecer junto ao novo convertido tanto quanto lhe for possível, estudando a Bíblia e orando com ele, ao mesmo tempo que responde às suas perguntas, esclarece a verdade e que, juntamente, conselheiro e liderado, procurem ajudar a outros. Se uma igreja não tiver conselheiros que estejam dispostos a fazer este serviço, então deve-se começar a treinar homens e mulheres cristãos para esta tarefa. A única maneira de treiná-los é dar um líder para seguirem.

Todavia é necessário afirmar aqui que este método somente vai atingir resultados se os discípulos puserem em prática o que forem aprendendo. Para isto, devemos compreender outro princípio usado pelo Mestre, que será estudado na próxima reunião.