Jesus ficava com os discípulos
Após chamar os seus discípulos, Jesus desenvolveu a
prática de estar com eles – essa era a essência do Seu programa. Era uma forma
extremamente simples de prática. Jesus não tinha uma erudição formal, nem
seminários teológicos, nem aulas periódicas para matricular Seus discípulos.
Por mais admirável que pareça, tudo o que Jesus fez, a fim de ensinar àqueles
homens em Seu caminho, foi atraí-los para andarem perto de Si. Jesus era a Sua
própria escola e o Seu próprio currículo!
O método de ensino natural e informal do Senhor era
muito diferente do ensino rígido e formal dos escribas. Estes religiosos
forçavam seus discípulos a seguirem certas leis, rituais e fórmulas de conhecimento,
para serem distinguidos dos demais. Enquanto isto Jesus apenas pedia aos Seus
discípulos que O seguissem. O conhecimento do Reino não era passado por meio de
leis e dogmas, mas na maneira de viver e na personalidade viva de Alguém que
andava com eles. Os discípulos de Jesus se distinguiam dos demais não por
rituais e dogmas, mas por estarem na companhia de Jesus, participando, deste
modo, de Sua doutrina (João 18:19,20; Atos 4:13).
A sabedoria era adquirida na companhia de Jesus
Foi por causa
desse companheirismo com Cristo que seus discípulos puderam conhecer os
mistérios do Reino de Deus (Lucas 8:10). O conhecimento era obtido por meio de
associação, antes de ser entendido por explicação. Um exemplo disto foi quando
um de seus discípulos perguntou: “como saber o caminho?”, demonstrando com isso
sua frustração sobre entender a Trindade. Perante isto Jesus respondeu: “Eu sou
o caminho, e a verdade, e a vida...” (João 14:5,6). Seus discípulos precisavam
apenas abrir os olhos para a verdade espiritual encarnado no meio deles.
Este método Jesus usou desde o início, quando
convidava os homens para serem seus discípulos. Ele dizia: “Vinde e vede” (João
1:39), querendo mostrar que observando o modo de viver do Senhor, nada mais
precisava ser dito. Para Filipe disse: “Segue-me” (João 1:43) e este transmitiu
ao seu amigo Natanel: “Vem e vê” (João 1:46). Um sermão vivo vale mais que cem
explicações. Mais adiante disse a Pedro, Tiago, João e André: “Vinde após mim e
eu vos farei pescadores de homens” (Marcos 1:17; Mateus 4:19; Lucas 5:10).
O princípio observado
Perceba a tremenda estratégia do Senhor. Apesar de
que muitas coisas os discípulos não conseguissem compreender, enquanto seguiam
a Jesus poderiam ter suas dúvidas sanadas. Na presença de Jesus puderam
aprender tudo quanto precisavam saber.
Esse princípio fica subentendido desde o início
quando Jesus selecionou dozes homens, dentre aqueles que compunham o círculo
maior de Seus seguidores, “...para estarem com Ele e para os enviar a
pregar...” (Marcos 3:14; Lucas 6:13). Mais adiante Jesus disse que iria
enviá-los “... a pregar, e a exercer a autoridade de expelir demônios”.
Entretanto Jesus deixou claro que antes que pudessem “pregar” ou “expulsar
demônios”, eles deveriam “estar com ele”. Esta nomeação pessoal para se
manterem em associação constante com Cristo fazia parte de sua comissão de
ordenação tanto quanto a autoridade de evangelizarem.
Mais íntimos quando o treinamento terminava
Jesus estava tão focado nesta missão que, enquanto
passava o segundo e terceiro ano de ministério, mais Ele dedicava tempo e
atenção aos discípulos.
Com frequência Jesus levava seus discípulos para um
retiro, num lugar mais reservado a fim de evitar a publicidade tanto quanto
possível. Foram feitas jornadas para Tiro e Sidom (Marcos 7:24; Mateus 15:21),
para Decápolis (Marcos 7:31; Mateus 15:29), para as regiões da Dalmanuta
(Marcos 8:10; Mateus 15:39) e também para as aldeias de Cesaréia (Marcos 8:27;
Mateus 16:13). Essas jornadas foram feitas em parte por causa da oposição
levantada pelos fariseus, e por causa da hostilidade de Herodes; mas,
principalmente, porque Jesus sentia a necessidade de ficar a sós com os Seus
discípulos. Mais tarde o Senhor passou com seus discípulos na Peréia (Lucas
13:22-19:28; João 10:40-11:54; Mateus 19:1-20:34; Marcos 10:1-52). E quando
aumentava a oposição ali, Jesus retirou-se para uma cidade próxima do deserto
chamada Efraim, onde permaneceu com seus discípulos (João 11:54).
Perante tudo isto não é de se admirar que, quanto
mais se aproximava a semana da paixão, Jesus ficava mais próximo dos seus
discípulos. Mesmo no Getsêmani, eles não se distanciavam mais do que um tiro de
pedra (Lucas 22:41). Não é assim que acontece com todas as famílias quando é
chegada a hora da separação? Cada minuto é aproveitado, por uma consciência de
que esta associação íntima logo não mais continuará. As palavras proferidas sob
estas circunstâncias são sempre as mais preciosas. Isso explica porque os que
escreveram os evangelhos dedicaram mais atenção àqueles dias.
Outra questão interessante é que, após a
ressurreição, Jesus apareceu cerca de dez vezes particularmente aos apóstolos
escolhidos (Atos 10:41,42; 1 Coríntios 15:5-8). As Escrituras demonstram que
nenhuma pessoa incrédula teve o direito de ver ao Senhor glorificado. Porque?
Somente os discípulos que estavam desesperados pelos últimos acontecimentos
precisavam ter sua fé revitalizada e confirmada mediante a prova da
ressurreição. Todo o ministério de Jesus girou em torno dos discípulos.
Jesus passou mais tempo com os Seus discípulos do que
com todos os demais habitantes daquele tempo. Comia com eles, dormia junto com
eles, conversava com eles, velejaram e pescaram, oraram juntos e adoraram nas
sinagogas e no templo.
Contudo, ministrava às massas
Enquanto Jesus
ministrava aos outros, Jesus era sempre acompanhado pelos Seus discípulos. Quer
Ele dirigisse a palavra às multidões, quer conversasse com os escribas e
fariseus, os discípulos estavam sempre por perto, observando e ouvindo. Sem
negligenciar o Seu ministério regular para com os que estavam em necessidade,
Jesus mantinha um ministério constante com os discípulos, que permaneciam ao
Seu lado. Dessa forma, aproveitavam o benefício de tudo quanto Ele dissesse e
fizesse aos outros, além das explicações pessoais e dos conselhos que Ele lhes
desse.
Isso exige tempo
Essa
associação íntima e constante, naturalmente, significou que Jesus não tinha
tempo para dedicar aos Seus familiares. Como criancinhas que precisavam de
cuidados constantes, assim também os discípulos estavam aos pés do Mestre. Até
mesmo naqueles momentos de devoções particulares, Jesus estava sujeito às
interrupções devidas às necessidades dos discípulos (Marcos 6:46-48; Lucas
11:1). Entretanto era isto que Jesus queria, pois eram seus filhos espirituais
(Mateus 12:47-50; João 13:13). A única maneira de um pai criar seus filhos é
estando com eles.
O alicerce do “acompanhamento”
O
acompanhamento é um cuidado que devemos ter com os novos convertidos. Trata-se
de algo óbvio, porém, infelizmente, muito negligenciado. Isto talvez porque no
nosso trabalho evangelístico este estágio não chame tanta atenção. Jesus,
porém, sabia da importância disto e por isto investiu neles.
Jesus declara em João 15:27 que vinha treinando
aqueles homens para serem suas testemunhas, depois que Ele partisse. E o método
que Ele escolheu para isto foi simplesmente “estar com eles”. Pelo motivo de
seus discípulos ficarem com o Mestre em todos os momentos, haveriam de receber autoridade
no Seu Reino (Lucas 22:28-30).
Seria um erro pensar que este princípio de
acompanhamento ficou restrito aos apóstolos. Jesus concentrou seus esforços
sobre estes poucos homens selecionados, mas em menor intensidade, Ele
manifestou a mesma preocupação pelos Seus demais seguidores (veja o exemplo de
Zaqueu, quando Jesus foi na casa dele após a sua conversão – Lucas 19:7; bem
como sua preocupação com os moradores de Sicar, quando se demorou ali alguns
dias – João 4:39-42). Todos estes crentes receberam alguma atenção pessoal do
Senhor, embora não se comparasse com a atenção dada aos apóstolos.
Também é importante mencionar o grupo de mulheres
fiéis, que ministravam a Jesus com seus bens (Lucas 10:38-42; Lucas 8:1-3).
Algumas destas mulheres estiveram com Jesus até o fim. Elas receberam também
atenção do Senhor para com a fé, mas também não se comparou com a prestada aos
apóstolos.
Jesus fazia tudo ao seu alcance, e realmente dava
atenção aos novos convertidos, porém Ele devia dedicar-se principalmente à
tarefa de desenvolver alguns homens, que, por sua vez, pudessem dedicar o mesmo
tipo de atenção a outros.
A igreja como comunhão contínua
O problema
inteiro da dedicação e atenção pessoal a cada crente individual somente pode
ser resolvido mediante a compreensão completa da natureza e da missão da
igreja. Realmente é a igreja que serve de instrumento para que Jesus pudesse
“acompanhar” aqueles que O seguiam. O agrupamento de crentes é o Corpo de
Cristo e, nessa qualidade, os membros devem ministrar uns aos outros,
individual e coletivamente.
Cada membro da comunidade da fé tem um papel a
desempenhar neste ministério. Mas isto somente é possível quando eles mesmos
estiverem sido treinados e inspirados. Enquanto Jesus esteve com eles
pessoalmente, Ele era o líder. Porém, com Sua partida, seria necessário que os
membros treinados da Igreja assumissem a liderança.
Nosso problema
Quando a Igreja vai aprender esta lição? Devemos
parar de dar foco demasiado nas multidões e preocupar-se em preparar líderes.
Os cultos de oração e aulas de treinamentos para obreiros evangélicos jamais
conseguiram também cumprir esta tarefa de preparo. Preparar uma pessoa na fé
requer atenções pessoais constantes, tal como aquela que o pai dá aos seus
filhos. Os filhos não podem ser criados por procuração. Esta tarefa somente
poderá ser realizada por indivíduos que permaneçam ao lado daqueles a quem
buscam liderar.
A Igreja tem falhado muito neste aspecto. Nas igrejas
muito se fala sobre o evangelismo e a necessidade de disciplina cristã, mas
pouco interesse se mostra pela associação pessoal, quando é evidente que esse
trabalho de evangelismo envolve o sacrifício e o abrir mão da liberdade pessoal
do líder cristão. Muitos dos recém-convertidos não recebem nenhum cuidado, a
não ser o estudo de uma escola bíblica e o aprendizado nos cultos de adoração.
Se os novos convertidos não tiverem pais ou amigos que preencham esta lacuna de
maneira eficaz, serão deixados inteiramente ao abandono, para descobrirem
sozinhos soluções para inumeráveis problemas práticos, correndo o risco de
naufragar na fé.
Sabendo desta tão grande importância de acompanhar os
novos na fé, não é de se admirar que cerca de metade daqueles que fazem
profissão de fé e unem-se à igreja venham a se desviar ou percam o ardor do primeiro
amor. Se os cultos e as aulas da escola bíblica são tudo o que as igrejas
locais tem a oferecer para desenvolver os novos convertidos em discípulos
maduros, então essas igrejas estão sendo derrotadas em sua própria finalidade,
por contribuírem para uma falsa segurança; e, se os novos convertidos seguirem
esse mesmo exemplo preguiçoso, isso, finalmente, lhes fará mais mal do que bem.
Desta forma, não há outra opção para desenvolver líderes evangélicos poderosos
se não houver dedicação intensa a estas almas. Afinal de contas, se Jesus, o
Filho de Deus, descobriu ser necessário permanecer quase continuamente com
apenas alguns de Seus discípulos, pelo período de três anos, e se apesar disso
um deles se perdeu, como poderia uma igreja local esperar cumprir essa tarefa
com um método que consiste em reunir-se apenas alguns poucos dias durante o ano
inteiro?
O princípio aplicado hoje em dia
A igreja precisa entender que sua preocupação primordial
deve ser a de ser uma guardiã pessoal daqueles que forem confiados aos seus
cuidados. Agir de outra maneira equivale a abandonar os novos crentes ao diabo.
É necessário encontrar, dessa forma, um sistema pelo
qual o novo convertido tenha um amigo crente a seguir, até o tempo em que, por
sua vez, possa guiar outro na fé. O conselheiro deve permanecer junto ao novo
convertido tanto quanto lhe for possível, estudando a Bíblia e orando com ele,
ao mesmo tempo que responde às suas perguntas, esclarece a verdade e que,
juntamente, conselheiro e liderado, procurem ajudar a outros. Se uma igreja não
tiver conselheiros que estejam dispostos a fazer este serviço, então deve-se
começar a treinar homens e mulheres cristãos para esta tarefa. A única maneira
de treiná-los é dar um líder para seguirem.
Todavia é necessário afirmar aqui que este método somente vai atingir resultados se os discípulos puserem em prática o que forem aprendendo. Para isto, devemos compreender outro princípio usado pelo Mestre, que será estudado na próxima reunião.