sexta-feira, 1 de março de 2013

O Plano do Mestre - Consagração

“Tomai sobre vós o meu jugo...” Mateus 11:29.

Ele exigia obediência
Jesus esperava que os homens que O seguissem fossem obedientes a Ele. Não pedia que fossem espertos, mas sim leais. Eles foram então chamados inicialmente de discípulos, o que significava que eram “aprendizes” ou “alunos” do Mestre. Somente muito mais tarde foram chamados de cristãos (Atos 11:26). Este “apelido” foi inevitável, já que com o passar do tempo os seguidores obedientes acabam se parecendo com o seu líder, assumindo o seu caráter.
A simplicidade deste método de abordagem é maravilhosa. A nenhum dos discípulos foi pedido, de início, fazer qualquer declaração de fé ou a aceitar algum credo bem definido, embora já tivessem reconhecido que Jesus era o Messias prometido (João 1:41,46,49; Lucas 5:8). Somente foi pedido que seguissem a Jesus. É claro que neste convite inicial estava subtendida uma chamada de confiança no Senhor, bem como obediência à Sua Palavra. Embora isto não tenha sido dito por Jesus no início, tudo ficou claro ao longo da caminhada com o Senhor, até porque ninguém seguirá a uma pessoa em quem não confia, nem tomará o passo da fé com sinceridade, a menos que esteja disposto a obedecer o que o líder dizer.

O caminho da cruz
Seguir a Jesus pode ter parecido fácil no início, mas logo se tornou claro que ser discípulo de Jesus envolvia muito mais do que crer alegremente que Ele era o Messias, antes significava a rendição da própria vida o Mestre, em todos os aspectos, em absoluta submissão ao Seu senhorio. Tinha que haver um total abandono do pecado. Os antigos modos de pensar, os hábitos e os prazeres do mundo, teriam de ser substituídos pelas novas disciplinas do Reino de Deus (Mateus 5:1-7:29; Lucas 6:20-49). Isto até porque é impossível servir a dois senhores (Lucas 16:13). Agora a perfeição do amor seria o único padrão de conduta (Mateus 5:48), e este amor deveria se manifestar na obediência a Jesus (João 14:21,23), expresso pela devoção daqueles por quem Ele morreria a fim de salvá-los (Mateus 25:31-36). Há uma cruz no discipulado – a autonegação voluntária, o negar a si mesmo, em favor de outro (Marcos 8:34-38; 10:32-45; Mateus 16:24-26; 20:17-28; Lucas 9:23-25; João 12:25,26; 13:1-20).

Foi e é um treinamento severo. As multidões gostavam de ser consideradas seguidoras de Jesus quando Ele enchia os seus estômagos, mas quando Jesus começava a falar das verdadeiras qualidades do Reino de Deus e do sacrifício necessário do discípulo (João 6:25-59), muitos o abandonaram (João 6:66). Eles mesmos declararam que era duro ouvir o que estavam ouvindo (João 6:60). Porém o mais surpreendente é que Jesus não saiu correndo atrás deles para que voltassem a ser seus discípulos. Jesus estava treinando líderes para o Reino e, se estes desejassem serem vasos úteis para o serviço, teriam de pagar o preço. Portanto, aqueles que desistissem no meio do caminho acabariam por ficar prostrados à beira da estrada. Seriam separados do grupo por causa do seu próprio egoísmo. Judas conseguiu manter-se quase até o fim, até que sua cobiça o apanhou e foi desmascarado (Marcos 14:10,11, 43, 44; Mateus 26:14-16, 47-50; Lucas 22:3-6, 47-49; João 18:2-9). Simplesmente é impossível seguir a Jesus realmente sem desprender-se totalmente deste mundo. Aqueles que fingiam ter feito isto só atraíam angústia e tragédia contra as suas próprias almas (Mateus 27:3-10; Atos 1:18,19). Talvez este seja o motivo porque Jesus foi tão severo com o escriba quando este disse que iria segui-Lo (Mateus 8:19,20). Jesus foi sincero dizendo que segui-Lo não era algo simples. Outro quis dar desculpas quando foi convidado a ser seguidor de Jesus, dizendo que precisava cuidar do seu pai, porém Jesus não permitiu qualquer demora dele (Mateus 8:21,22; Lucas 9:59,60). Outro disse que iria seguir ao Senhor, mas de acordo com suas próprias condições, fazendo primeiro as suas vontades. Mas Jesus repreendeu esta ideia (Lucas 9:62). Jesus nunca negociou as Suas condições e sempre foi claro no chamado.

É por este motivo que em outro momento Jesus disse que aquele que desejava ser Seu discípulo deveria antes pensar bem, calculando o custo (Lucas 14:28). Não preparar-se e estar ciente das exigências equivale a se expor ao ridículo perante o mundo depois, quando este se desviasse do Caminho. Jesus disse resumindo o seu chamado: “Assim, pois, todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem, não pode ser meu discípulo” (Lucas 14:33; Marcos 10:21; Mateus 19:21; Lucas 18:22).

Poucos querem pagar o preço
Na realidade, quando alguns falsos discípulos deixaram de segui-Lo em Cafarnaum porque Ele não quis satisfazer os desejos do povo, Jesus ficou apenas com um punhado de seguidores. Voltando-se para os doze perguntou-lhes: “Porventura quereis também vós outros retirar-vos?” (João 6:67). Se aqueles últimos desistissem, o que seria do ministério de Jesus? Mas Pedro respondeu: “Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna; e nós temos crido e conhecido que tu és o Santo de Deus” (João 6:68,69). Certamente estas palavras soaram como um conforto para o Mestre, pois dali em diante Jesus começou a falar com Seus discípulos mais abertamente sobre Seus sofrimentos e Sua morte, com muito maior franqueza do que antes.

Obedecer é aprender
De início os discípulos não entenderam tudo o que o Senhor lhes dizia. A capacidade deles de entender as verdades mais profundas do Reino e da obra de Jesus na cruz estavam obscurecidas. Quando Jesus disse aos seus discípulos que seria morto pelos líderes religiosos, momentos após Pedro ter feito aquela linda declaração, o mesmo repreendeu a Jesus: “Tem compaixão de ti, Senhor; isso de modo algum te acontecerá” (Mateus 16:22; Marcos 8:32). Frente a isto Jesus repreendeu seu discípulo mostrando que Satanás o havia enganado: “...para trás de mim Satanás, porque não cogitas das coisas de Deus, mas sim das dos homens” (Mateus 16:23; Marcos 8:33). Porém isto não foi suficiente. Em muitas outras vezes Jesus se viu constrangido a falar sobre a Sua própria morte e o que isto significava para os discípulos, até porque eles não entendiam a razão.

Ao não compreender claramente a mensagem da cruz, os discípulos tropeçaram, não entendendo a posição deles no Reino de Deus. Para eles era muito difícil aceitar o ensino de uma humilde servidão em favor dos outros (Lucas 22:24-30; João 13:1-20). Antes ficavam disputando para saber quem dentre eles ocuparia o lugar de honra no Reino (Marcos 9:33-37; Mateus 18:1-5; Lucas 9:46-48). Tiago e João desejavam lugar de destaque (Marcos 10:35-37; Mateus 20:20) e os outros discípulos, cheios de inveja, ficaram indignados com eles (Marcos 10:41; Mateus 20:24). Também foram muito severos em seu julgamento contra aqueles que não concordavam com eles (Lucas 9:51-54). E ainda repreenderam os pais que queriam que Jesus abençoasse a seus filhos (Marcos 10:13). Fica claro que os discípulos não experimentaram realmente o que era seguir a Cristo no início.

Apesar disto tudo, Jesus suportou com paciência as falhas humanas de seus discípulos escolhidos, pois, apesar das deficiências, estavam dispostos a segui-Lo. Houve até um pequeno período em que voltaram às atividades de pesca, após a ressurreição do Senhor (Marcos 1:16; Mateus 4:18; Lucas 5:2-5; confronte com João 21:1-18), porém voltaram ao propósito original. Embora tivessem muito que aprender, a consagração deles a Cristo era autêntica (Marcos 10:28; Mateus 19:27; Lucas 18:28). Com tais homens Jesus estava disposto a tolerar muitas coisas que surgiam por causa da imaturidade espiritual deles. Jesus sabia que eles iriam amadurecer à medida em que fosse crescendo na graça e no conhecimento do Senhor. Eles iriam desenvolver a capacidade de entender as verdades espirituais, contanto que colocassem em prática toda a verdade que tivessem entendido (João 7:17).

A obediência a Cristo é o próprio meio através do qual aqueles que estavam em companhia dEle aprendiam mais e mais da verdade. Jesus não pedia que os discípulos seguissem o que não soubessem ser verdade, mas ninguém podia segui-Lo sem aprender o que é a verdade (João 7:17). Por isso que Jesus não ensinou eles a entregarem suas vidas a uma doutrina, mas sim a uma Pessoa, que era a doutrina em carne e osso! Somente na medida em que continuassem em Sua Palavra é que poderiam conhecer a verdade (João 8:31,32).

A prova do amor
Jesus ensinou que a obediência é a grande expressão do amor. E isto Ele enfatizou mais antes da Sua morte: “Se me amais, guardareis os meus mandamentos... Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama, será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele... Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada. Quem não me ama, não guarda as minhas palavras; e a palavra que estais ouvindo não é minha, mas do Pai que me enviou... O meu mandamento é este, que vos ameis uns aos outros, assim como ei vos amei... Vós sois meus amigos, se fazeis o que eu vos mando” (João 14:15,21,22,23; 15:12,14).

Demonstrada por Jesus
A obediência absoluta à vontade de Deus foi mostrada na própria vida de Jesus. Em Sua natureza humana, Ele sempre deu lugar à vontade do Pai, o que permitiu a Deus Pai usar a vida de Jesus totalmente, conforme o seu propósito já determinado. Várias vezes Jesus declarou: “A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou, e realizar a Sua obra” (João 4:34); “O meu juízo é justo porque não procuro a minha própria vontade, e, sim, a daquele que me enviou” (João 5:30; 6:38); “... assim como também eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai, e no seu amor permaneço” (João 15:10; 17:4). A tomou maior forma quando disse no Getsêmani: “... não se faça a minha vontade, e sim a tua” (Lucas 22:42; Marcos 14:36; Mateus 26:39,42,44). Esse era o princípio que dirigia a vida inteira de Jesus, e assim aconteceu desde o princípio. A cruz foi apenas o clímax que coroou a Sua entrega ao Pai (Hebreus 5:8).

Assim, quando Jesus falava sobre obediência, seus discípulos tinham um grande e perfeito exemplo no próprio Senhor. Jesus disse: “Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também” (João 13:15). Assim como Jesus foi abençoado em obedecer ao Pai, seus discípulos encontraram bênçãos em obedecer a Ele. Realmente esse é o único dever de um servo. Assim aconteceu com Cristo, e nada menos pode jamais ser aceito como digno de Seus discípulos (Lucas 17:6-10; 8:21; Marcos 3:35; Mateus 12:50).

O princípio focalizado
Estrategicamente, este era o único modo de Jesus moldar a vida de seus discípulos na Palavra. Não tem como desenvolver o caráter e propósito nos discípulos sem a obediência. Também não podemos nos esquecer que Jesus estava preparando homens para liderar a Sua igreja e, ninguém pode ser líder enquanto não houver primeiramente aprendido a seguir um líder. Por este motivo Jesus os ensinou sobre a necessidade de disciplina e respeito pela autoridade. Não pode haver insubordinação contra as ordens do Senhor! Ninguém sabia, melhor do que Jesus, do fato que as forças satânicas estavam adestradas contra os discípulos, bem organizadas e equipadas, com o objetivo de frustrar o avanço do Reino e os esforços evangelísticos. Não seria possível aos discípulos vencerem o poder das trevas se não se submetessem ao Único que conhece a estratégia da vitória. Isto requer obediência absoluta ao Mestre e o abandono total a tudo quanto era deles.

O princípio aplicado hoje em dia
Estamos envolvidos numa guerra espiritual, quer queiramos ou não, e cujos resultados são vida ou morte. Todo o dia em que nos mostramos indiferentes às ordens do Senhor, é um dia perdido para a causa de Cristo. Se já tivermos aprendido nem que seja a verdade mais elementar do discipulado cristão, então já teremos compreendido que fomos chamados para ser servos do Senhor Jesus, a fim de obedecer à Sua Palavra. Não faz parte dos nossos deveres raciocinar porque Ele fala desta ou daquela maneira, mas o que importa é obedecer às Suas ordens. Se não houver a obediência ao que Ele quer que façamos agora, é duvidoso que consigamos progredir muito no Reino de Deus. No Reino não há lugar para descuidados e o próprio Senhor nos ensinou em Jeremias 48:10: “Maldito aquele que fizer a obra do Senhor relaxadamente!”

Porque existem hoje muitos cristãos atrofiados em seu crescimento espiritual e sem poder no seu testemunhar? Ou porque a Igreja contemporânea está tão frustrada no seu testemunho ao mundo? A resposta não seria senão a negligência da vontade de Deus e a acomodação com a mediocridade. Onde está a obediência à cruz? Parece que os ensinos de Cristo sobre negar a si mesmo e a dedicação ao Reino foram substituídos por uma filosofia que diz: “Que cada um faça o que quiser.” Chegou a hora de que as exigências do discipulado cristão sejam praticadas na íntegra. Quando este princípio é aceito na prática, podemos desenvolver avançar no crescimento e passar para o próximo passo da estratégia do Mestre.